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Âncora 10

Ochy Curiel  e o conceito de Identidade

Ochy Curiel

Ochy Curiel

(...)[Betty] Friedan vai construir uma proposta de emancipação feminista em que as mulheres deveriam desprender-se do trabalho doméstico e buscar a profissionalização, tal como faziam os homens. Nesse ponto, [Ochy] Curyel, dialogando com o feminismo negro, avaliará a proposta (...) como classista e racista, já que Friedan não contemplou, no seu ideal de libertação da mulher, "as mulheres afrodescendentes, que sempre trabalharam fora do âmbito doméstico como força de trabalho nas ruas e nas casas dos brancos e brancas, como consequência da escravidão"¹(...)

 Com base na identificação dessa invisibilidade e/ou invisibilização das mulheres negras, a autora destaca o "risco" de se esquecer da diferença a partir da criação de uma falsa homogeneidade em que os grupos privilegiados esquecem-se de sua própria especificidade.E é nesse ponto que a identidade se 

 apresenta não como um pressuposto essencial, mas sim como a lembrança de uma convivência não harmônica em que os sujeitos agem e se articulam perante uma cultura que está sendo massacrada, na tentativa de sair do lugar de outro e de se posicionar diante de um feminismo que não questiona a "diversidade" do sujeito, que não distingue diferença de desigualdade. (...) identidade se transforma, portanto, em uma estratégia de ação política para a desarticulação do dispositivo racista e não como a configuração de um sujeito homogêneo (...) nomear-se "orgulhosamente negra" como uma forma de gerar sentido de pertencimento entre semelhantes, de nomear e visibilizar as desigualdades e até como prática de sobrevivência e reafirmação para, assim, (re)construir um lugar na história(...)

 

    (...)Nesse sentido, a proposta é um sujeito que não estaria baseado em uma identidade que predetermina uma união e semelhança a priori, mas sim no fato de compartilhamento de uma experiência histórica e cotidiana de opressão e de um sonho comum da emancipação.

Creo que es más importante ser antirracista que orgulhosamente negra, creo que es más importante ser feminista que reconocernos mujeres, creo que es más importante eliminar el régimen de la heterosexualidad, que ser lesbiana, creo que lo importante son los proyectos políticos de transformación [...].

(..._é necessário tomar cuidado com que as críticas à identidade transformem-se em uma ferramenta das elites feministas acadêmicas para deslegitimar novamente as estratégias de conforto e visibilidade por parte de feministas negras e lésbicas no interior da luta das mulheres. Curiel sintetiza essa posição afirmando: "Olvídate de que soy negra, pero nunca te olvides de que soy negra".

MAYORGA, Claudia; COURA, Alba; MIRALLES, Nerea; CUNHA, Vivane Martins. As críticas ao gênero e a pluralização do feminismo: colonialismo, racismo e política heterossexual. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, 21(2), p. 477-478, maio-agosto/2013.

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